ENCENA ESSA CENA


(Trindade foi menina, em "Debut".
Depois, antes da evidência e da experiência de Consciência Suprema em si, enfrentou o desafio da personalização da confusão em "antes Dele em mim".



"Enigma Reflexivo" mostra Trindade conhecendo mais a si mesma, em um labirinto espelhado.

Em "A morte de Joan", reencontrou após muitos anos, um amor perdido, e se sentiu viva novamente.



Com a progressão do tempo e pela misericórdia do Universo, Trindade conhece Oliveira, conhece o que é pertencer a alguém e ter alguém para si. "Nós e os nós" é um fim de semana típico dos dois.

E Átila....

Átila quer ver Prússia antes de partir. Acha que lá encontrará a mesma juventude que ficou para trás, junto de Régina. Agora que Régina tem sua família, pouco faz sentido. É um diálogo sobre amor, perda e reencontro.



TEATRO EM CENAS SIMPLES, CURTINHAS E ACESSÍVEIS. APROVEITEM!







sábado, 28 de maio de 2011

antes Dele em mim

TRINDADE:
(Já faz quase cinco meses...
Eu estava queimando minha meu cigarro de corda pela última vez, refletindo em meu refúgio. E aquele senhor de barba rala, mais uma vez apareceu para mim.
Ele chegou bem perto, tocou a minha face, sentiu o cheiro do fumo que queimava entre meus dedos, e exclamou:)

VELHO:
"- Não se fazem mais anjos como antes!"

TRINDADE:
(E eu, que obviamente não gostei nem um pouco do comentário do velho, repliquei:)
"- Pois saiba, meu senhor, que eu sou o mais perfeito exemplo de um anjo... (traga, solta fumaça) vindo diretamente do inferno."

(E o velho riu.
Ele sabia o quão frágil, confusa e perdida eu estava, e achou graça na minha resposta, que soava tão segura e era na verdade tão falsa.
Então o velho prosseguiu: )

VELHO:
"- Pois me diga, diabinha. Qual seu nome?"

TRINDADE:
"- É Trindad, meu senhor... Trindade, como o nome de uma daquelas anjas vindas do paraíso.

VELHO:
"- Eu sei - disse o velho - Eu sei..."

TRINDADE:
"- E do que mais o senhor sabe?"

VELHO:
"-Tudo! - riu-se o velho - Tudo aquilo que você ainda não se preocupou em descobrir dentro de si mesma.

TRINDADE:
(Eu sabia que ele sabia... Eu sempre o encontrava quando refletia  em  minha montanha.... Ele sempre me dizia as mesmas verdades, verdades essas que eu tratava de esquecer assim que caía neste mundo insano novamente.)

VELHO:
"(toma um gole de sua garrafinha de whiskey) O que confabulas em sua cabecinha hoje, Pequena Trindad?"

TRINDADE:
"Nada demais...
É que as vezes...bem...eu só gostaria de esquecer o que aconteceu...
Eu gostaria de vibrar pelo presente e...
Dizer que tudo o que tenho é meu. (se distancia do velho, andando pelo stage)
Eu gostaria de olhar para o céu e sentir aquilo que eu sentia a dez anos atrás.
Gostaria de poder andar pelos mesmos caminhos que já não entendo mais...
Gostaria de sorrir amarelo pela falsidade das pessoas que eu conheço.
Queria seguir o arco-íris e encontrar aquilo que não mereço. (volta para junto do velho)
Sabe, meu velho, eu queria sim aquele pote de ouro...
Mas temo muito Ter de pagar pelo tesouro.

VELHO:
"- Caríssima: tudo tem seu preço...."

TRINDADE:
"- E viver? Viver tem seu preço?"


VELHO:
" - Bem...(pensativo) Na maioria das vezes, paga-se sofrendo...Angustiando o "porquê" a cada segundo.... (seguro de si) O preço de viver é tentar entender o "PORQUÊ".


TRINDADE:
"(ansiosa) E a gente encontra?

VELHO:
"- Não sei....Eu...não sei..."

TRINDADE:
(Eu sabia que ele sabia. Então, eu prossegui: )

"- Eu não entendo este mundo, meu senhor.... vaga-se muito até que algo faça  sentido. E então é necessáriosorte para que a boa vontade contribua com disciplina em direção à meta.
(divagando) O que temos,
tirando o que podemos?
O que nos faz mal, tirando a glória do inimigo?
(indagando...) E você, já chorou por alguma razão realmente nobre?
Já procurou pelo sentido das coisas?
Já foi enriquecer a alma?
(empolgação) Já filosofou sobre aquelas folhas secas?
(refletindo) Ou será que você só pensou em ir,
sem imaginar que precisaria de um pretexto para voltar...?
Será que você já parou para pensar que...

VELHO:
"(bruscamente) Já parei para pensar, sim!"

TRINDADE:
"- E então?"

VELHO:
"- Não sei"

TRINDADE:
"- É claro que você sabe.... Têm de saber! Saiba, por favor!

VELHO:
" - Não sei!"

TRINDADE:
"- Não sabe? Como?"

VELHO:
"- Não sei! E este é meu maior tormento por anos, séculos até. Eu não sei!"

TRINDADE:
"- É o seu tormento, também?"

VELHO:
"- Também"

TRINDADE:
(E eu senti que estávamos então, encurralados. Se ele, o homem que me mostrava as verdades do universo sofria da mesma angústia que eu, o que faríamos?
O velho senhor dissipou-se com o vento...Se foi, como já havia ido tantas outras vezes.
Sentei. Apaguei meu cigarro no concreto, e caí no mundo real novamente. Insano e alienado como cada um de nós.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário