ENCENA ESSA CENA


(Trindade foi menina, em "Debut".
Depois, antes da evidência e da experiência de Consciência Suprema em si, enfrentou o desafio da personalização da confusão em "antes Dele em mim".



"Enigma Reflexivo" mostra Trindade conhecendo mais a si mesma, em um labirinto espelhado.

Em "A morte de Joan", reencontrou após muitos anos, um amor perdido, e se sentiu viva novamente.



Com a progressão do tempo e pela misericórdia do Universo, Trindade conhece Oliveira, conhece o que é pertencer a alguém e ter alguém para si. "Nós e os nós" é um fim de semana típico dos dois.

E Átila....

Átila quer ver Prússia antes de partir. Acha que lá encontrará a mesma juventude que ficou para trás, junto de Régina. Agora que Régina tem sua família, pouco faz sentido. É um diálogo sobre amor, perda e reencontro.



TEATRO EM CENAS SIMPLES, CURTINHAS E ACESSÍVEIS. APROVEITEM!







sábado, 28 de maio de 2011

A MORTE DE JOAN

A MORTE DE JOAN

 I
TRINDADE:
Muitas verdades foram escritas nas sub linhas no livro da vida, o livro escrito pela Deusa Destino. Umas dessas verdades foi dominada por Joan. Eu a conheci nas entre linhas de meus poemas sem sentido, que expressam o pouco de verdade que sei.
Ela sabia meu nome, e me dizia muito pouco sobre suas origens. Mas eu sabia...
Joan era uma das profecias apocalípticas.

JOAN:
"Então, também o ama?"

TRINDADE:
"Sim... E ele será meu."

JOANA
"Me diga, Trindade... Sabes quem sou eu?"

TRINDADE:
"Por que haveria de saber?"

JOAN:
"Eu sou Joan, a deusa do fogo."


TRINDADE:
(Senti um arrepio inevitável. Tive medo de perdê-lo.)
"E o que fazes aqui?"

JOAN:
"Vim te avisar que não o terá."

TRINDADE:
"Como não? Ele pertence à mim... minha alma se encontra na dele...."

JOAN:
"Eu também conheço o livro do Destino, Trindade, e o usarei como quiser... Não o terá."

TRINDADE:
"Somos amigas?"

JOAN:
"Podemos ser... Mas você não o terá."
(Neste momento soube que Joan tinha de morrer.)





II
TRINDADE:
(No dia em que o amor se tornou espécie rara, procurava sem saber pelo poder de conexão. Eu andava por ruas vazias onde era esmagada por pessoas irreais. Eu via a tudo, e entendia à muito pouco. )

"Enxergo em teus olhos....És como eu...."

(Eu entendia que os dias eram curtos, e que as noites eram longas, e que a vida andava em círculos, e que eu já estivera neste lugar antes, e que estaria aqui depois.... Eu entendia que beleza não se via, e que arte não se escrevia....)

"Enxergo teu passado... És como eu..."

(Em uma tarde de sol e chuva, conheci Cabral. E Cabral se tornou esperança, fonte de luz....Conforto!
Eu não queria me aproximar, mas sentia uma necessidade intensa de conexão. Então resolvi perfurar as camadas grossas que me separavam de Cabral.)

"Enxergo tua alma.... És como eu..."

CABRAL:
"Enxerga minha alma, não é mesmo? E o que vês?"

TRINDADE:
"Não sei muito bem.... Está tudo tão embaçado.... Tire seus óculos, e verei.
Não!!!!!!!!!!!!!"

CABRAL:
"Acho que agora você sabe...."

TRINDADE:
"Conhece Joana?

CABRAL:
"A deusa do fogo?
TRINDADE:
"Sim."

CABRAL:
"Não."

TRINDADE:
"E de onde nos conhecemos então?"

CABRAL:
"Do passado....que é tão presente e simboliza..."

TRINDADE:
"...o futuro!"

CABRAL:
"Que nunca vai acontecer."

TRINDADE:
(Convivemos por duas semanas e meia. Ensinamo-nos caminhos que não conhecíamos, e compartilhamos verdades que já sabíamos. Falávamos da morte e do amor.
Cabral sumia e depois reaparecia. Cabral fazia promessas que não cumpriria. E eu sempre esperava, sempre esperava. Eu entendia Cabral, pois Cabral me completava.
Foi em um dia de tempestade e arco-íris, que vi as profecias feitas por minha amiga acontecerem. Cabral veio sem avisar e informou...)

CABRAL:
"Tenho de ir."

TRINDADE:
"Mas por quê?"

CABRAL:
"Porque não te amo, e nunca te amarei"

TRINDADE:
"Quem disse isso?"

CABRAL:
"Há algo que não te contei: Um dia, Joan me mostrou o mapa feito pelo Destino."

TRINDADE:
"Joan, a deusa do fogo?"

CABRAL:
"Sim."

TRINDADE:
"Não!!!!!!!!!!!!"
(Havia algo dentro de mim que apontava Cabral como minha esperança para conexão.
Mas Cabral se foi, e nunca mais voltou. Neste dia, metade de mim se perdeu.
Então eu entendi que para recuperá-lo, Joan tinha de morrer.)




III
TRINDADE:
(E lá eu estava... Tonta...
E lá estava eu... Tonta...
Tonta.... porque o mundo - assim como a vida - anda em círculos.
Eu me perguntava sobre a natureza do acaso, que na verdade não existia.
Eu refletia sobre a pureza do destino, que na verdade não passava de um mero determinismo.
Nunca pertenci ao mundo da razão - tão cheio de erros justificáveis - e por isso nada neste mundo nunca foi capaz de me destruir... Ou quase nada...
Joan nunca se foi completamente. E quando eu a encontrava em meus poemas, lágrimas vinham a meu coração.)

JOAN:
"E agora por que choras, Trindade?"

TRINDADE:
"Ele se foi...
Estou cansada, Joan! Estou tão cansada!"

JOAN:
"Eu te avisei... Lutar por causas impossíveis é muitas vezes torturante...Qual é o problema desta vez?"

TRINDADE:
"Eu já não sei mais...
Muitas dúvidas se mesclam com medo e frustração.
Não quero ter que disfarçar
Cada vez que uma lágrima vier aos meus olhos.
Não quero ter de interpretar
Esse personagem sujo que me reservaste em teu teatrinho.
Não quero fingir que me divirto
Enquanto meu espírito chora, porque é massacrado
Por todo o sadismo, toda a dor, toda a cena incolor
Que incluíste em tua peça.
Estou certa de que receberei pelo que plantei,
Mas não quero colher do mesmo fruto
E sei que não terei nenhum atributo
Por ter representado melhor minha própria vida.
Sei que espero muito do mundo
É que no fundo, sei que não posso mudar nada:
Serei só mais um personagem
Que atua em uma peça desqualificada."

JOAN:
"Você me parece muito desapontada, minha querida. Está se esquecendo de algo muito importante: Nem todas as causas que parecem impossíveis, são realmente inviáveis..."

TRINDADE:
"Quando tempo exatamente terei de esperar?"

JOAN:
"Não importa! Como disse, não o terá, mas o obterá assim que minha morte for concebida."

TRINDADE:
(O mundo andava em círculos...
E lá estava eu... completamente tonta.)

IV
TRINDADE:
(Muitas surpresas aconteciam naquelas tardes.
Eu aprendia muito do que já sabia, e temia muito do que compreendia.
Para pílulas, faltava dinheiro, e as alegrias eram feitas de ilusões.
Por muito tempo acreditei que Cabral voltaria. Após o que pareceu uma encarnação de espera, eu o reencontrei.
E vi aquele homem a quem chamava de meu, e não pude me conter. Meus olhos brilhavam, e os olhos dele refletiam sentimentos aprisionados. Ele me viu, e uma alegria intensa mesclou-se com uma angústia comum.)

CABRAL:
"Que fazes aqui?"

TRINDADE:
"Vim buscar o que é meu."

CABRAL:
"Mas eu já não te disse que...."

TRINDADE:
"Joan mente. O livro que ela te mostra não contém verdades essenciais."

CABRAL:
"E qual seria esta verdade essencial?"

TRINDADE:
"As verdades que regem o mundo nunca mudam. Estou certa de que elas se manifestam aqui.... Em meu coração."

(Me atrevi a tocá-lo.
Então sentimento e instinto se fundiram em um só ato: amor.
O que conhecíamos por nosso se encontrou. Por causa da espera, não éramos gemidos, mas soluços - sutis. Por causa da idade, nossas sensações eram dormências suaves...
E mágica se fez.
Quando o último suspiro de êxtase e deleite foi ouvido, Cabral murmurou em meu ouvido...
"Amo-te".
E assim, Joan morreu.)

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